Aprenda a detectar estratégias da indústria de suplementos usadas para enganar muitas pessoas que buscam obter melhoras em sua saúde, desempenho e estética.
Como somos enganados pela indústria de suplementos – Parte 1
Uma conversa com Paulo Gentil
Como irão perceber, este artigo tem um tom diferente. Eu optei por conversar com o leitor sobre algo que me incomoda há muito tempo: a propaganda enganosa que impulsiona a venda de diversos suplementos e complementos alimentares.
Espero que as informações apresentadas aqui possam ajudar a detectar algumas estratégias usadas para enganar muitas pessoas que buscam obter melhoras em sua saúde, desempenho e/ou estética.
Quem sabe assim, menos pessoas serão vítimas de vendedores desinformados e/ou inescrupulosos e passarão a perceber quais os verdadeiros caminhos que devem ser percorridos na busca de uma boa forma física e de um organismo saudável.
A maioria de nós simplesmente não tem paciência e dedicação para alcançar os objetivos almejados por meio de um treinamento e alimentação adequados.
No entanto, em vez de reconhecer estas limitações e mudar de atitude, nós acabamos nos sentindo mais confortáveis com a ideia de que não precisamos nos esforçar tanto, pois a solução pode ser encontrada em algum produto mágico.
Afinal, quantos de nós têm disposição para treinar de maneira correta e intensa, com regularidade e durante um período de tempo relativamente longo?
Ou quem tem disciplina para trocar frituras, doces e álcool por uma refeição equilibrada que invariavelmente é mais trabalhosa e menos saborosa, além de serem vistas como “anti-sociais”?
Aproveitando de nossa preguiça e (por que não?) de nossa vontade subconsciente de sermos enganados, as empresas de suplementos lançam regularmente novas “soluções” mágicas para quem deseja muito resultado em pouco tempo e com o mínimo de esforço. Mas infelizmente a imensa maioria desses produtos não produz os efeitos prometidos. Na verdade, a maioria não produz nenhum efeito benéfico.
Para tentar minimizar os estragos feitos pelo oportunismo de vendedores e fabricantes, o Conselho Nacional Contra Fraudes na Saúde, dos Estados Unidos, criou em 1989 uma força tarefa para produtos usados como recursos ergogênicos.
O objetivo da força tarefa foi avaliar as promessas feitas pelas indústrias de suplementos, com principal ênfase nas estratégias que as empresas usam para vender seus produtos.
Foram avaliadas 45 companhias que anunciavam principalmente em revistas direcionadas ao fisiculturismo e à prática de atividades físicas.
A partir dos resultados obtidos pela força tarefa (Lightsey & Attaway, 1992) e das análises que tenho feito ao longo dos anos, foi possível identificar algumas das estratégias usadas pelas empresas para enganar consumidores. Dentre elas pode-se destacar as seguintes:
Má interpretação de pesquisas
Nas propagandas dos produtos, as pesquisas normalmente são retiradas de seu contexto e as conclusões são extrapoladas além do que seria honesto sugerir.
No artigo de Lightsey & Attaway (1992), os autores citam o caso do Boro, o qual é proclamado como um agente anabólico com base em um estudo da USDA realizado em mulheres no período pós-menopausa.
No entanto, a única evidência encontrada no estudo foi que a suplementação de boro, em dietas deficientes neste mineral, aumentou os níveis de testosterona de 0,3 para 0,6 ng/dl.
A distância entre os resultados do estudo e as promessas dos suplementos é tanta que os próprios autores da pesquisa dizem que ele não pode ser usado para promover a suplementação de boro. Algumas limitações:
- 1) a pesquisa foi em mulheres no período pós-menopausa,
- 2) as participantes eram deficientes no mineral, e
- 3) não foi demonstrado que os aumentos nos níveis de testosterona verificados no estudo causem algum efeito anabólico ou ergogênico.
Também são conhecidos os casos de estudos sobre taurina e ginseng siberiano, ou ciwujia (até onde se sabe, nenhum deles foi publicado).
Nos dois casos é relatado um aumento do VO2 devido à utilização do produto, e se afirma então que os suplementos promovam um aumento na captação de oxigênio.
Entretanto, ao analisar os resultados, percebe-se que o consumo de oxigênio foi mais alto para uma mesma carga de exercício.
Ou seja, as pessoas gastaram mais energia para fazer o mesmo esforço, o que pode atrapalhar o desempenho do atleta em vez de ajudar, tendo em vista que a economia de movimento é um dos principais responsáveis pelo desempenho em diversas modalidades esportivas (Faria et al., 2005a; Faria et al., 2005b; Larsen, 2003; Saunder et al., 2004).
Outro exemplo clássico são as substâncias que supostamente estimulam a liberação de hormônio do crescimento (GH).
Em primeiro lugar, deve-se ressaltar que é muito fácil estimular a liberação deste hormônio, coisas simples como prender a respiração, ficar em jejum ou realizar sprints curtos (corridas de alta intensidade) já fazem o trabalho.
Em segundo lugar, a maioria dos suplementos nem consegue aumentar a liberação de GH.
Por fim, mesmo que o GH seja realmente estimulado, este hormônio não tem um efeito ergogênico ou anabólico no tecido muscular e seu efeito na redução da gordura corporal é muito reduzido (Gentil et al., 2005).
Portanto, por mais que uma pesquisa revele que determinado suplemento promova aumento nos níveis de GH, isto não significará que ele tenha qualquer efeito estético ou ergogênico.
Uso indevido do nome de Universidades e instituições de pesquisas
É muito comum se dizer que um produto foi testado em determinada universidade com intuito de dar credibilidade ao suplemento e impulsionar as vendas.
No entanto, deve-se lembrar que em uma pesquisa realizada oficialmente sempre será citado o nome do pesquisador responsável e os detalhes do experimento, o que raramente ocorre nas propagandas.
Na verdade, estas pesquisas “realizadas em universidades” geralmente são conduzidas da seguinte forma: solicita-se que algum membro da equipe da Universidade participe de um projeto controlado pela própria empresa e se coloca o nome da instituição na farsa devido à presença do funcionário, que nem ao menos é pesquisador.
Outra estratégia é usar as instalações da Universidade para fazer pequenos testes (que carecem da rigorosidade e imparcialidade dos experimentos sérios) e afirmar que os testes foram realizados dentro da Universidade.
Inclusive, vale ressaltar que a maior parte das Universidades proíbe que seu nome seja usado para promover suplementos alimentares.
Portanto, se algum vendedor disser que há pesquisas realizadas em determinada universidade, cobre o nome dos autores, o local de publicação e exija que lhe mostrem a pesquisa, do contrário haverá grande possibilidade de ser mais uma farsa.
Endosso por profissionais ou organizações
Outra estratégia muito comum é associar o produto a nomes famosos, como artistas, atletas ou organizações.
Basta ligar o canal de compras para perceber quantas dietas milagrosas e suplementos mágicos têm celebridades “assinando embaixo”. Ou então, tenta-se dar credibilidade a um produto afirmando que ele é usado por determinadas organizações.
Lightsey & Attaway (1992) citam o caso em que uma companhia afirmava que os New York Yankees usavam seus produtos, no entanto, ao saber da farsa, o famoso time de beisebol enviou uma carta à empresa exigindo imediatamente a retirada do nome do time das propagandas.
A carta dizia claramente “a organização do New York Yankees não tem a intenção de endossar o uso de seu produto, direta ou indiretamente”.
Em 1991, a empresa Slim-Fast publicou um anúncio de 4 páginas na revista da Associação Médica Canadense e usou um estudo do grupo de Goldbloom em suas propagandas.
Revoltados com o fato, o grupo de pesquisadores publicou uma nota no mesmo jornal (Goldbloom et al., 1991) afirmando que desejavam deixar claro que não endossam estes produtos ou quaisquer outros similares.
Os autores afirmaram que falta de qualquer evidência para usar os produtos é contundente, e o fato de aparecer em um jornal médico pode levar a enganos.
Segundo os autores: “os adornos (do anúncio) com referências científicas apenas aumentam a confusão, e nós achamos isto particularmente irritante para ser citado em uma argumentação a favor de atitudes dietéticas.”
Há inclusive empresas que contam com ganhadores de prêmio Nobel e pesquisadores de renome em suas folhas de pagamento.
No entanto, simplesmente pagar alguém famoso não torna um produto eficiente, no máximo, pode torná-lo mais caro. Se o produto realmente fosse bom, não seria necessário dizer que os garotos-propaganda são pesquisadores renomados, atletas ou artistas, bastaria mostrar as pesquisas que comprovam a eficiência do produto.
Estudos em andamento e trabalhos não disponíveis para leitura do público
Normalmente as empresas dizem que há estudos em andamento para confirmar suas hipóteses. No entanto, isto raramente é verdade, tanto que tais estudos nunca aparecem.
Com relação aos trabalhos não disponíveis, isto chega a ser uma ofensa aos direitos do consumidor e um paradoxo, pois não há razão para se negar acesso a um trabalho que poderia favorecer os vendedores.
Se tais estudos realmente existissem, pode ter certeza que eles seriam amplamente divulgados pelos vendedores.
Além disso, se os estudos estiverem em andamento, a empresa só deveria fazer propaganda após os artigos serem publicados, em vez de se basear em estudos que nem ao menos foram concluídos.
Manipulação de dados
É muito comum que a metodologia da pesquisa sofra alterações até dar o resultado desejado.
Um exemplo disso é o caso do estudo de Stanko (1992), o qual usou o teste-tuni-caudal por comparar os efeitos da suplementação de piruvato entre o grupo experimental e o controle.
No entanto, a estatística correta seria uma ANOVA fatorial (é até estranho entender como um artigo com uma falha tão grave foi aprovado pelos revisores de uma revista científica).
Além disso, os estudos de Stanko usavam doses de piruvato de até 40g por dia (Stanko et al., 1992), sendo que os comprimidos dos suplementos normalmente oferecem cerca de 0,25 a 1 g da substância por cápsula.
Também são notórios os estudos sobre GH. Os primeiros autores sempre exaltavam os efeitos no ganhos de massa magra e, por consequência, se passou a acreditar que o hormônio teria efeito anabólico no tecido muscular.
No entanto, os resultados não mostravam ganhos de massa muscular e nem ganhos de desempenho, mas convenientemente estas informações foram esquecidas por quem divulgava os dados (Gentil et al., 2005).
Com relação ao uso de shakes para substituir refeições, há casos bem interessantes de manipulação de estudos. Podemos pegar como exemplo um estudo de Bowermar et al. (2001).
O estudo comparou dois grupos: 1) um grupo fazia uma dieta de restrição calórica e 2) outro grupo substituía duas refeições diárias por shakes comerciais. Antes de tudo, é importante destacar que o estudo foi patrocinado pela empresa que fabrica os shakes.
O estudo tem uma série de aspectos interessantes, que poderiam ser uma lista de violações de princípios de objetividade e imparcialidade científica.
Primeiro o programa foi explicado aos médicos, depois os “médicos interessados” (palavra do artigo “interested physicians”) foram visitados pessoalmente e ganharam um notebook (com os dados do projeto) e um aparelho de bioimpedância, ambos financiados pela empresa que fabrica o suplemento a ser testado.
Em segundo lugar, quem tomava o suplemento sabia que estava passando por uma intervenção, pois ganhava o suplemento de presente.
Em terceiro lugar, o estudo não foi “cego”, ou seja, o médico agraciado com o notebook e o aparelho de bioimpedância sabia exatamente quem estava fazendo o tratamento e quem não estava.
E este mesmo médico (pasmem!) foi o responsável por ligar para as pessoas e dar as orientações sobre como perder peso e (pior ainda!) por fazer as análises de composição corporal.
Uma olhadinha na estatística também traz dados interessantes. O teste usado para comparar mudanças (teste-t), não é considerado adequado para este tipo de experimento, por aumentar a probabilidade de erro tipo I (encontrar resultados onde eles não existem).
Por curiosidade: os autores deveriam usar uma ANOVA fatorial ou algum outro teste mais adequado.
Mas a manipulação mais forte é muito mais sutil do que as anteriores. Os pesquisadores relatam que o grupo que tomou o suplemento não recebeu apoio financeiro direto, no entanto, os indivíduos receberam o suplemento gratuitamente.
Agora eu pergunto: será que os resultados seriam os mesmos se o outro grupo tivesse recebido gratuitamente refeições nutricionalmente equilibradas?
Estudos anteriores verificaram que fornecer comida é até mais eficiente do que dar dinheiro para uma pessoa, se você deseja que ela perca peso.
No estudo de Jeffery et al. (1994), os 202 indivíduos foram divididos em quatro grupos:
- 1) participaram de um programa que envolvia orientação sobre nutrição e práticas de exercício e receberam a alimentação apropriada durante o estudo;
- 2) participaram de um programa que envolvia orientação sobre nutrição e práticas de exercício e receberam pagamento em dinheiro pelo peso perdido e mantido;
- 3) combinação dos dois anteriores;
- 4) apenas foram solicitados a perder peso da forma como preferissem, sem nenhum tipo de orientação ou recompensa.
O grupo que recebeu alimento, recebeu semanalmente refeições prontas para 5 cafés da manhã (cereais, leite, suco e frutas) e cinco jantares (carne magra, vegetais e batata ou arroz).
Ou seja, nada de shakes ou barras comerciais, apenas comida de verdade!
O estudo durou 18 meses e, ao final, os grupos que receberam alimento, com ou sem incentivo financeiro, obtiveram as maiores perdas de peso em relação aos demais grupos.
Novamente, repare que nenhum dos grupos recebeu shakes ou barras de nenhuma empresa, apenas receberam refeições equilibradas.
Portanto, quando os autores dizem nos estudos que os sujeitos não ganharam dinheiro para participar, mas ganharam o suplemento há duas opções: ou eles estão ignorando importantes fatos científicos ou estão se fingindo de desentendidos ao aplicar uma das estratégias mais eficientes para manipulação de resultados.
Isto também poderia ser traduzido da seguinte forma: ou os especialistas das empresas não são muito competentes, ou estão mentindo.
Muitos acreditam na manipulação dos estudos e justamente por isso acham muito bom ter estudiosos em sua folha de pagamento, mas por outro lado isso nem sempre dá certo, pois há pessoas (como o chato aqui que assina o texto) que tem um pouquinho de conhecimento e podem apontar estes “pequenos” detalhes que constantemente passam despercebidos.
Desta forma, ao avaliar os estudos que usaram shakes para substituir refeições (Bowerman et al., 2001; Flechtner-Mors et al., 2003; Ditschuneit et al., 1999), observei sempre as mesmas limitações.
Tais fatos me permitiram concluir com segurança e de forma embasada cientificamente que os resultados obtidos pela maioria dos estudos são frutos da manipulação do desenho experimental, e não da eficiência de um determinado shake.
Que conste nos autos: 1) alguns estudos citados contaram com a participação de David Heber, um notório membro do comitê “científico” da Herbalife e autor do livro “The LA Shape Diet” e 2) todos os estudos foram patrocinados pelos fabricantes dos shakes.
Estudos em animais
O fato dos resultados serem expressivos em animais não significa que eles se repitam em humanos.
Um exemplo claro neste sentido é o CLA. Ao testar os suplementos em ratos, os resultados foram espantosos, com redução de 60% na gordura corporal e aumento de 14% na massa magra (Park et al., 1997).
No entanto, os estudos em humanos não chegaram nem perto de reproduzir tais achados e acabaram mostrando simplesmente que o produto não valeria a pena, pois os resultados variavam do inexpressivo ao inexistente, além dos efeitos colaterais (Terpstra et al., 2004; Larsen et al., 2003).
Supervalorização dos resultados
Muitas vezes os resultados são expressos de modo a passar uma falsa impressão de eficiência.
No caso do piruvato, por exemplo, há anúncios que alardeiam um impressionante favorecimento de 48% na perda de gordura, comprovada cientificamente.
No entanto, a análise dos dados nos mostra que o grupo que ingeriu piruvato perdeu 4 quilos, contra 2,7 kg para o grupo que ingeriu placebo, resultando em uma diferença de pouco mais de 1kg.
Estes resultados são ainda mais insignificantes se pensarmos que a média de peso dos indivíduos era superior a 100 kg (Stanko et al., 1992).
Portanto, a análise dos dados nos faz sugerir que além, da ajudinha dada pelo desenho do estudo, houve muita boa-vontade do autor (e coincidentemente o dono da patente do piruvato) para afirmar que tal suplemento seja bom.
Outro estudo divertido é um que “comprovou” a eficiência do HMB (Nissen et al., 1996). Na primeira parte do experimento, com duração de três semanas, uma amostra de homens sedentários foi dividida em três grupos: 1) ingestão de placebo; 2) ingestão de 1,5g de HMB e 3) ingestão de 3 g de HMH.
De acordo com os resultados, não houve diferenças na perda de gordura nem no ganho de massa magra entre os grupos, mas os autores tiveram a boa-vontade de dizer que houve uma tendência de maiores ganhos de massa magra e ainda tiveram a cara-de-pau de mostrar os valores de significância (p < 0,11), sendo que a significância seria atingida com p < 0,05.
Se os valores fossem pelo menos próximos de 0,05 seria aceitável falar em tendência, mas aí já foi demais! Os autores não relataram diferenças no ganho de força para membros superiores, mas reportaram para membros inferiores.
Na segunda parte do estudo, com duração de 7 semanas, as comparações foram realizadas entre o uso de placebo e 3 gramas diárias de HMB.
Ao final do estudo, não houve diferença na perda de gordura e ganho de massa magra entre os grupos. De modo similar, não houve diferença nos ganhos de força para membros superiores ou inferiores.
Apesar de tantas controvérsias, o grupo de Nissen (coincidentemente dono da patente do HMB) conclui que o “principal achado do estudo é que a suplementação de HMB resulta em aumento da função muscular… esse efeito é claramente mostrado pelos aumentos na força muscular e embasado pelo aumento da massa magra nos dois estudos…”.
Como assim aumento de força e massa magra? Não foi isso que os resultados revelaram…
E o pior é que a partir dessas conclusões tortas, os autores já partem para as suposições de porque o HMB funciona? Mas de que adianta explicar porque ele funciona, se nem ao menos ele funciona?
Também é interessante citar um estudo sobre CLA publicado em 2000 por Blankson et al. (financiado pela empresa norueguesa Natural Limited, uma grande vendedora de CLA). No estudo, 60 pessoas com obesidade e sobrepeso ingeriram CLA por 12 semanas.
As dosagens diárias utilizadas foram de 1,7g, 3,4g, 5,1g e 6,8g. Ao final de 12 semanas, o que grupo que obteve os melhores resultados não chegou a perder nem 2 quilos.
Ou seja, indivíduos obesos gastariam uma quantidade considerável de dinheiro para perder cerca de meio quilo por mês!!
Qual seria a significância clínica, ou até mesmo estética de uma pessoa de quase 90 kg perder 1,73kg de gordura em 12 semanas?
Outro ponto interessante: mais da metade da amostra teve problemas gastrointestinais devido ao suplemento. Quem garante que a perda de peso não foi devido a esses problemas, os quais provavelmente acabaram prejudicando a absorção dos alimentos?
Além disso, é interessante notar que o grupo que ingeriu doses de 5,1g de CLA não perdeu peso, o que torna os resultados ainda mais estranhos, pois é difícil explicar como doses de 3,4 e 6,8 g trazem resultados enquanto 5,1g não traz resultados significativos.
Mais estranha ainda é a conclusão dos autores ao dizer que “nós queremos enfatizar que os efeitos benéficos do CLA com relação à massa gorda e massa corporal magra são promissores”.
Realmente parece que só “querendo” para acreditar que os resultados sejam promissores. Mesmo o grupo que obteve os melhores resultados perdeu 1,73 kg de gordura ao final de 12 semanas e o único grupo que obteve aumento na massa corporal magra (o que ingeriu 6,8g por dia) conseguiu um acréscimo de míseros 0,88kg, enquanto nenhum dos outros grupos aumentou a massa magra! Como assim promissores?
Autor Paulo Gentil
20/07/2006
Leia a parte 2 do artigo: Como somos enganados pela indústria de suplementos – Parte 2
Referências bibliográficas
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Fonte: http://www.gease.pro.br/artigo_visualizar.php?id=194
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